sexta-feira, 13 de maio de 2011

O ESQUECIDO VÔO DO SEMIDEUS


O vôo de Yuri Gagárin

Há exatamente meio século um menino disse uma frase curta e poética que ficaria gravada na história da humanidade: “a Terra é azul” Esse menino era Yuri Gagárin, um astronauta ou cosmonauta, segundo a terminologia da então União Soviética. Gagárin era de fato um garoto, tinha 27 anos, idade que hoje caracteriza um adolescente/adulto e era pequeno como um menino. A razão disso é que um cosmonauta alto, não caberia na pequena Vostok, a nave em que ele viajou.
O menino que escapou da força gravitacional da Terra e, do topo da atmosfera, disse “a Terra é azul” comprovou algo que os cientistas já sabiam, a Terra é azul, pois ocorre um efeito de dispersão luminosa. Ocorre que o comprimento de onda mais curto da luz solar é refletido por átomos de gases atmosféricos que atuam como se fossem espelhos. Um exemplo disso: é a luz de uma lanterna que rebate em um espelho que rebate no outro que rebate no outro, quase ao infinito...O resultado disso é a luz se espalhando e dominando o local.
O mesmo efeito (dispersão luminosa) faz com que o Sol apareça rubro ao amanhecer e anoitecer, mas exibe uma luz branca quase impossível de ser encarada a olho nu durante a maior parte do dia.
Gagárin, depois do seu vôo, acabou alçado à condição de semideus e foi mais famoso que Michael Jackson, Bono Vox, Madona e uma constelação de estrelas atuais juntas. Ele foi uma espécie de supernova, uma estrela massiva que, quando explode, brilha mais que uma galáxia inteira. Ele abriu as portas do espaço cósmico para a humanidade inteira, embora seu vôo tenha resultado de uma queda de braços entre a União Soviética e os Estados Unidos, durante a Guerra Fria.
A Guerra Fria, talvez muitas pessoas desconheçam, foi o período que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando as então superpotências, União Soviética e Estados Unidos, se opuseram como adversários dispostos a destruir o planeta para fazer valer suas ambições ideológicas de poder. Foi nesse ambiente de destruição iminente que floresceu a contra cultura, o movimento hippie, o consumo inocente de drogas o pacifismo e o rock and roll cantado por uma infinidade de bandas de enorme criatividade como: Led Zeppelin, Jimmy Hendrix e Pink Floyd (agora inofensivos e diluídos como desinfetante para a privada) e pelo menos uma centena de outros, apenas para se referir aos que brilharam como estrelas de primeira magnitude.
Todos os homens antes de Gagárin (Platão, Shakespeare, Darwin, Einstein e Jesus Cristo) estiveram confinados à prisão gravitacional da Terra. Gagárin havia sido o único a se libertar dessa longa prisão, desde que o primeiro homem caminhou pela superfície da Terra. As gerações atuais que desconhecem Gagárin (apesar de uma rede de comunicação inédita e em escala global) são ignorantes?
Nada disso.
Os jovens, pela própria natureza da juventude, são os que constroem o futuro e por isso mesmo questionam o presente. Jovens e não tão jovens, no entanto, vivem uma vida preenchida por pura banalidade, um dos resultados do que Francis Fukuyama (ideólogo do governo Reagan), chamou de “fim da história”, o triunfo do neoliberalismo, da “mão invisível” do mercado.
Os heróis que essas gerações reconhecem são as figuras efêmeras e mal construídas dos jogos futebolísticos e de novelas das sete, oito, nove ou dez...
Uma infinidade de bugigangas como telefones celulares com aplicações multiuso e, ao mesmo tempo tão obsoletos, e uma montanha de outras tolices com vida útil de poucos meses são os desejos de cobiça de boa parte da vida, de certamente a maior parte da vida das pessoas que vivem agora no planeta.
Daí Gagárin ser um esquecido.
A história deixou de fazer sentido...
Já estivemos no futuro, com as naves Apollo riscando o céu como um meteoro artificial.
Quando retomaremos o futuro?
Talvez no momento em que a história retomar seu poder de (re) criação.

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