terça-feira, 5 de outubro de 2010

O barato do clube de Ciências

O barato do clube de Ciências
É fácil montar um. Basta juntar alunos, professores e pais e criar projetos que relacionem o conhecimento ao dia-a-dia
Ricardo Falzetta (rfalzetta@abril.com.br)
Durante as décadas de 1960 e 1970, muitas escolas brasileiras montaram clubes de Ciências. Na época os professores estavam preocupados em mudar o ensino da disciplina para atender aos rápidos avanços tecnológicos. "O objetivo era formar pequenos cientistas e a ênfase era o trabalho no laboratório", lembra-se o professor Ivan Amorosino do Amaral, do grupo Formar Ciência, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.

De lá para cá a realidade mudou muito — e os clubes de Ciências também. Hoje o que importa é relacionar os conteúdos ao cotidiano dos estudantes e às outras áreas do conhecimento. Assim funciona o clube da Escola Moppe, de São José dos Campos (SP). Lá o laboratório não é o centro das atenções. Mais vale estimular a criatividade, envolvendo professores de várias áreas, alunos e familiares dispostos a levar para a sala de aula um pouco de sua experiência de vida. "O ideal é que a iniciativa esteja prevista no projeto pedagógico, contendo objetivos, metodologia, cronograma e recursos necessários", acrescenta Jorge Machado, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Pará.

Se você se interessou pela idéia, não hesite em pedir ajuda. Há centros de estudo com os quais você pode se corresponder e pedir sugestões (veja indicações no final desta reportagem).

A escola vai a Marte

São José dos Campos, no interior de São Paulo, é a capital científica do Brasil. Na cidade funcionam o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a Embraer e outras empresas nas quais a tecnologia de ponta é marca. Esse ambiente privilegiado acabou "contaminando" a Escola Moppe, que há cinco anos mantém um clube de Ciências.

Os fundadores são alunos, professores e pais, como Carlos Alexandre Wuensche, cientista como vários outros. Todos se reuniram em torno do projeto Colonizando Marte. Na época, a Nasa, agência espacial norte-americana, desenvolvia programas de exploração do planeta vermelho.

A possibilidade de mesclar ficção e conhecimento seduziu um grupo de estudantes de 3ª a 8ª série. Como uma viagem tripulada a Marte é ainda pouco provável, o trabalho tinha tudo para não sair dos limites do laboratório — como nos antigos clubes de Ciências. Os aspectos humanos e sociais, no entanto, também foram privilegiados.
A garotada aprendeu conceitos científicos e matemáticos e avançou em discussões sobre a formação de uma nova sociedade. Quem seriam os primeiros a viajar para Marte? Quais deveriam ser as preocupações relativas à preservação do meio ambiente? Naturalmente apareceu a ligação com o cotidiano da turma. A coordenadora pedagógica Simone Estácio explica: "Os temas abordados fizeram os alunos pensar em como anda nossa sociedade aqui na Terra".

As atividades do Colonizando Marte duraram quase três anos. Divididos em cinco grupos, os alunos se embrenharam em conceitos matemáticos e científicos de ponta. A astronáutica entrou no cálculo da melhor data para o lançamento do foguete (por mais que ninguém tivesse a pretensão de viajar, de fato). As noções de empuxo foram aprendidas ao calibrar, em escala reduzida, a potência do propulsor do veículo. E vários conceitos de Biologia e Química entraram em cena para realizar a eletrólise da água (gerando oxigênio e hidrogênio). Por fim, todos tiveram noções de eletricidade com a montagem de um painel solar para fornecer energia à espaçonave.

Os resultados foram apresentados em feiras de Ciências na própria cidade e a Moppe acabou selecionada para as edições de 2000 e 2001 da SBPC Jovem, evento paralelo às reuniões anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizadas em Brasília e Salvador.

Fonte: Revista Nova Escola. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/barato-clube-ciencias-425888.shtml. Acesso em: 05 out. 2010.

Glycia Carla de Padua Leite

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